O mercado de geração distribuída no Brasil está em constante evolução, e o armazenamento de energia tem se tornado um tema central nas discussões sobre o futuro do setor. Segundo Sidney Ipiranga, engenheiro eletricista, diretor técnico da Associação Brasileira de Geração Distribuída (ABGD) e CEO da Energia Plus Brasil, o avanço da tecnologia de baterias e a experiência internacional indicam que o Brasil deve seguir o caminho de mercados mais maduros, como o europeu e o americano."Se você quiser prever o futuro do setor de geração distribuída, basta observar os mercados mais desenvolvidos", afirma Ipiranga. Ele destaca que, nos Estados Unidos, especificamente na Califórnia, sete em cada dez kits de geração distribuída vendidos já incluem baterias. No Reino Unido, essa proporção chega a nove em cada dez kits. "Isso mostra que o armazenamento de energia já é uma realidade, e não apenas uma tendência", acrescenta.No Brasil, a adoção de sistemas híbridos, que combinam geração fotovoltaica com armazenamento de energia, começa a ganhar força. Um dos principais motivadores para essa mudança é a série de restrições e desafios enfrentados pelos consumidores para obter acesso à rede elétrica. "Problemas como inversão de fluxo de potência ou orçamentos inviáveis para adequação da rede fazem com que os sistemas híbridos, que não dependem exclusivamente da rede, sejam uma solução viável e eficiente", explica.O mercado de sistemas de armazenamento de energia pode ser dividido em duas grandes categorias: aplicações "na frente do medidor" e "atrás do medidor". As primeiras referem-se ao uso de baterias integradas diretamente à rede de distribuição ou transmissão, oferecendo serviços ancilares como suporte à rede ou a geradores. Já as aplicações "atrás do medidor" incluem o uso de baterias para armazenamento de energia em residências, empresas ou veículos elétricos.Ipiranga destaca ainda o crescimento da viabilidade econômica de sistemas híbridos no Brasil, especialmente em regiões onde as tarifas de energia durante o horário de ponta são elevadas. "Em algumas distribuidoras, o uso de baterias já é financeiramente vantajoso para consumidores comerciais e residenciais, especialmente quando há uma alta demanda durante o horário de ponta."O setor de transporte também desempenha um papel importante na descarbonização global, segundo o especialista, representando cerca de 40% do consumo de energia no mundo. "A descarbonização desse setor passa pelo uso de baterias em veículos elétricos, caminhões, ônibus, aviões, navios e trens", afirma Ipiranga. Ele ressalta que o custo das baterias tem caído significativamente nos últimos anos, impulsionado pela alta demanda do setor de transporte. "Hoje, as baterias utilizadas em veículos elétricos são as mesmas que podem ser usadas para armazenar energia em residências."Por fim, Ipiranga pontua que o futuro do armazenamento de energia no Brasil é promissor, com a queda dos custos das baterias e o avanço da tecnologia de sistemas híbridos. "O payback de um sistema híbrido, que combina geração fotovoltaica e baterias, já está em torno de cinco anos, uma redução significativa em relação aos últimos anos", conclui ele, que também menciona que, apesar dos desafios, o setor está em crescimento e se prepara para atender à demanda crescente por soluções de energia mais sustentáveis e eficientes.